A Beira do Caminho

Não por acaso nesse seminário temos três filmes do mesmo diretor – Breno Silveira ? Dois Filhos de Francisco, à Beira do Caminho e Luiz Gonzaga. À beira do caminho, título sugestivo, é de uma das canções de Roberto Carlos, mas traz a ideia de alguém que está à beira e não no caminho. Alguém que parou e ficou à Beira porquê? Esperando o que para voltar e caminhar, ou fazer parte de uma corrente que é a vida que nos leva? Conta uma história simples, mas emocionante, conta a estória de João homem que após uma tragédia em seu passado, saiu pelas estradas, para fugir de um caminho e tinha como companhia a solidão, a amargura, e o isolamento. Um dia ele se depara com uma criança escondida na caçamba – órfão de mãe, restava ao garoto ir buscar um pai que morava na distante São Paulo – único “elo” familiar que lhe restou. Na verdade o garoto era alguém só, sem proteção. Personagem sofrido por perdas e desamparado, fácil para João identificar-se. Eles teriam uma amizade improvável, mas aos poucos devido as circunstâncias um vai olhando para o outro, vão se percebendo e acaba surgindo entre eles brechas para que ambos possam encarar de vez fantasmas do presente e do passado.

O foco fica nos conflitos internos tanto de João, como de Duda vamos compreendendo a ligação entre os dois e as necessidades de cada um.

Os dois tinham vazios a serem preenchidos deixados pelas tragédias vividas. Os dois queriam sair da Beira do Caminho. Essa história tem algo semelhante com Central do Brasil. Como no filme de Walter Salles, nesse Duda acaba de perder a mãe e fica sozinho no mundo, à deriva e passa a depender de um estranho ranzinza para guia-lo na vida. Não sei se aqui cabe uma metáfora com a jornada empreendida na familiar convivência entre pais e filhos que muitas vezes empreendem “viagens” como dois personagens desconhecidos entre si, mas que na verdade gostariam de tornar-se amigo de fé, camaradas. Há uma luta do garoto para sobreviver passa depender de uma caridade e generosidade que naquele momento parecia escassa – é uma jornada rumo a superação.

O filme retrata relações familiares, perda, reconstrução, canções. Bonita cena quando Dira Paes vai ao baile com João e Duda. Ela tira João para dançar e ele em sua amargura recusa. O garoto diz: “Pode ser eu?” E dança com ela, o menino teve a perda da mãe. Ali de certa forma ele reave a presença feminina em sua vida e esses momentos tem algo de reparação, algo de elaboração. Para Breno Silveira esse filme teve um trabalho emocional extra. Ele parou um ano com a produção do filme para tentar salvar a mulher, sua esposa vítima de câncer. Ela morreu. E depois disso Breno voltou para concluir o filme.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *