Amor é Tudo o que Você Precisa
O roteiro escrito pela diretora Susane Bier decola de Copenhague rumo ao Sul da Itália para chegar a Costa de Amalfi – maravilhoso.
O título original é a Cabelereira Calva que se refere a protagonista de meia idade Ida recém saída esperançosa de sessões de quimioterapia. O filme inicia com uma conversa dela com sua médica a qual aborda com ela a possibilidade de uma reconstrução da mama.
A médica questiona também se o marido não esperaria isso dela para ficar sexualmente melhor favorecido. Nesse momento começamos entrar em contato com um aspecto interessante da protagonista. Ela responde para médica que não faria a reconstrução pois seu marido (pela lente otimista de seus olhos) importa-se com valores internos e que eles viviam bem, recebendo dele todo apoio.
Ida é uma lutadora, muito afetuosa com seus filhos, marido e clientes.
Ao voltar para casa estreando uma peruca loura, ela encontra o marido numa cena sexual com sua jovem contadora. Depois de uma discussão entre os dois que acaba numa separação há uma cena metafórica que as frutas caem da sacola, se esparramam pelo chão e vemos Ida agachar-se e recolhê-las novamente na cesta como se ela tivesse tido um esparramar-se de si mesma e volta recolher novamente o que restou. Ida está prestes a viajar para Amalfi onde a filha Astrid prepara um jantar pré-nupciais, seguido das núpcias propriamente ditas.
O chamariz estelar é Pierce Brosnan atuando como o empresário viúvo, amargurado desde que perdeu a mulher repentinamente num banal e inesperado acidente de carro. E é justamente uma batida de carro que o aproxima da cabelereira.
A temperatura amorosa de Ida é o que realmente aquece o filme. Vemos sua luta para recuperar a autoestima após a retirada da mama e junto com isso a decepção amorosa com a qual ela não contava. Enquanto isso Philip que é bem sucedido, assediado, mas por conta da morte da esposa, acorrida anos antes, não permite que as pessoas se aproximem e mantêm a máscara de homem durão. Ele é o futuro sogro da filha de Ida. E é na pele dessa amargurada pessoa cheia de defesas que Philip explica a Ida, quando os dois começam a se envolverem que como a vida dos parasitas de planta machos não tem sentido. Assim como parasita, a vida de Philip perde o sentido após a trágica morte da sua esposa.
Desde então o empresário do ramo alimentício não se permite viver outra história de amor exibindo uma expressão carrancuda que transmite mais tristeza do que raiva.
As pessoas ao seu redor, tanto no trabalho quanto na família reagem a sua presença com carinho em vez de repulsa. É como se seu estado de espírito exalasse um pedido de ajuda, uma vontade de ser feliz, mesmo sem Philip ter consciência disto. Do lado oposto, há Ida, uma mulher casada e com filhos já crescidos, que apesar do câncer de mama recém-tratado e da traição de Leif seu marido, ainda exibe uma enorme simpatia com seu sorriso largo e olhos arregalados, transmitindo um leve tom de ingenuidade.
O primeiro encontro do casal é em uma batida de carro, representando o choque de personalidades. Os dois atores constroem uma ótima química entre seus personagens sustentando boa parte do longa com suas interações. Quem mais se destaca é a atriz, cativando o público facilmente com sua atuação carismática e bastante expressiva.
Os coadjuvantes também têm sua profundidade.
Estamos colocando o foco nos protagonistas mas facilmente poderíamos discorrer sobre o marido imaturo, a cunhada interesseira, o filho homossexual, a filha esforçada, mas perdida, etc. As ótimas atuações, o visual deslumbrante, a música romântica dá profundidade à simplicidade da trama e prendem o interesse do público.
É uma comédia romântica madura e bem humorada sobre a esperança que ainda resiste quando tudo na vida parece estar errado.
Finalmente, há um ponto a ser levantado se houver interesse em nosso bate papo aqui é sobre perda. As tantas perdas que a vida traz. E quando a perda de algo ou perda do amor de alguém conduz a ansiedade e quando conduz ao luto e a aceitação. E o que pode trazer de relevante em um caminho ou no outro.