Billy Elliot
Comentários do filme: Billy Elliot
Estamos em 1984 e a classe operária do Reino Unido arde ante as drásticas medidas de Margaret Thacher. Com esse incendiário ingrediente juntamos o talento do diretor Stephen Daldry – um britânico cheio de vontade de mudar o mundo através do cinema. É um cinema proveniente do teatro – que estimula o público jovem e ao mesmo tempo renova a linguagem de cena. O norte da Inglaterra está imerso numa dramática greve mineira. As famílias decompõem-se e no meio de uma delas, que já está assolada além desses problemas sociais, com a morte da mãe que era a figura integradora da família, nasce ali um garoto que decide trocar as luvas de boxe pelas sapatilhas de bailarino clássico. Nessa vocação que aparece como algo incomum na vida desses mineiros já vemos um símbolo de uma mudança muito importante . Billy é alguém que quer escolher sua própria vida, ter uma outra oportunidade. A luta de boxe aparece como um esporte, um lazer, mas mostra o lado da luta, o ter que só brigar e se endurecer, e não ter escolha – não ter outro lazer. Como o descer nas profundezas para trabalhar aparece como sendo símbolo do servilismo sem saída. O argumento baseia-se na greve que se produziu há uns 18 anos atrás e deixou os mineiros em situação de sobrevivência precária. O único luxo que se permite a família Elliot é dar-lhe umas moedas para que pratique boxe no ginásio, mas uma espreitada nas aulas de ballet será suficiente para mudar-lhe a vida. Ali a sra Wilkinson ensina ballet a um grupo de meninas sem qualquer talento.
É uma maravilha de sensibilidade que Daldry ( o diretor) demostra na altura de refletir no seio de uma família trabalhadora uma questão inicialmente menor – a galeria de secundários, encabeçada pelo pai e o irmão, secundada pela frustada professora apegada ao cigarro e acabando no amigo com o futuro “gay” – isso feito de uma forma que é um prodígio de humanidade e doçura.
O seu maior problema foi encontrar o pequeno protagonista, pelo que realizou mais de 2 mil testes com jovens que se candidataram. Finalmente, descobriu-o em Jamie Bell, um menino de 13 anos e bailarino desde os seis. Uma atividade que ocultou dos seus colegas de escola pelo mesmo motivo que o personagem que interpreta: porque se considera que “dançar é coisa de menina.”
Os mais sensíveis certamente derramaram lágrimas por Billy Elliot, cuja história retrata nada mais do que a luta de um menino tentando tornar-se adulto e vencer intolerâncias atemporais. E nesse sentido nos identificamos com ele e cada um talvez faça contato com um pedaço de Billy que há dentro de cada um de nós, independente da profissão escolhida. Todavia , temos também como grande personagem do filme o pai de Billy. Tony ( seu outro filho) é um lider grevista, caçado pela polícia e ele descobre que Billy prefere usar sapatilhas a lutar com luvas de boxe. Há uma sequência interessantíssima no filme – o elevador descendo para levar os mineiros e minutos depois eles aparecem subindo as escadas do belo Teatro de Londres. Quem sabe mostrando esse pai podendo acolher a incomum escolha do filho e quanto lucrou essa família, quanto crescimento e diferença trouxe para eles. Mostra a questão geracional – havia tanto a necessidade de lutar boxe, ou seja, viver daquela forma submissa que vinha de pai para filho. As luvas de boxe eram do avô paterno e o desejo de ser bailarino era da avó materna.
O filme começa com a escolha de uma música – que fala sobre a dança e o desejo irresistível de dançar sempre – aos seis anos, aos 8, sempre, sempre. A escolha do repertório musical é fascinante. A primeira vez que Billy dança no filme, ainda na aula de ballet a música executada é “O Sol Brilhará Amanhã ” – trazendo um argumento velado que somente se um ser humano escolher fazer o que realmente gosta verá o sol brilhar.
Isso inclusive é o que sua querida mãe deixou escrito na carta que ele sabia de cor – ela dizia para ela buscar ser ele mesmo.
A primeira vez que “O lago do Cisne” é ouvido nesse filme – ele está no porto e a sra. Wilkinson conta sobre a fábula dessa sinfonia (?) de Tchaicowisky – apareceu um príncipe que se apaixonou pela moça e transforma a vida dela – Talvez mostrando a necessidade de construção que um ser humano só consegue em contato com outro – que forme um par com você. Nesse momento uma embarcação começa a movimentar-se e abandona o cais. Assim Billy tornou-se o grande bailarino pelo par que formou com a sra. Wilkson, pelo esforço e transformação de seu pai e pela dedicação de toda a sua cidade que desejam ter alguém com sucesso e com um destino diferente – no estilo de nosso Ayrton Sena. Lembrem-se que no início todas as pessoas eram submissas e tudo o que lhes era perguntado a resposta era – não sei. O pai acordou quando pode ver o talento do filho e faria qualquer coisa para ajudá-lo a alcançar. É a essência da história que nos toca, pois fala da condição humana de buscar pela felicidade e realização.
Comentadora: Cibele Brandão – Dia 08/05/2004 – APM
Ótimo trabalho!
Após perder muito tempo na internet encontrei esse blog
que tinha o que tanto procurava.
Parabéns pelo texto e conteúdo, temos que ter mais
artigos deste tipo na internet.
Gostei muito.
Meu muito obrigado!!!
Marcos, muito obrigada. Espero que nos visite sempre.
Cibele Brandão