O MENDIGO
Eu estava mendigando de porta em porta pelo caminho da aldeia, quando a tua carruagem de ouro apareceu ao longe, como um sonho deslumbrante. E eu fiquei me perguntando extasiado quem seria esse rei de todos os reis. As minhas esperanças voaram alto e julguei que meus dias maus tinham chegado ao fim. Fiquei esperando esmolas que me seriam esparramado por toda a parte na poeira.
A tua carruagem parou onde eu estava sentado. Teu olhar pousou em mim e desceste sorrindo. Senti que a felicidade da minha vida havia enfim chegado.
Mas, então, de repente, estendeste a tua mão direita e me perguntaste: “Que tens tu para me dar?”
Ah! Mas que capricho de rei foi esse de estenderes a palma da tua mão para pedires a um mendigo?
Eu estava confuso, não sabia o que fazer. Então, lentamente, tirei da minha sacola o menor grão de trigo e o entreguei a ti.
Mas qual não foi a minha surpresa quando, ao fim do dia, ao entornar no chão minha sacola, encontrei entre as migalhas um grão de ouro que era o menor de todos.
Chorei amargamente, lamentando não ter tido a coragem de me haver dado todo a ti.
(Gitanjali,50)
– Sadhana – O Caminho da Realização
RABINDRANATH TAGORE, indiano, nasceu em Calcutá, 1861, e faleceu em Santiniketan, Bengala, 1941. Músico, poeta, contista, teatrólogo e filósofo, publicou muitas obras de cunho místico e profundamente humano. Em 1901 fundou um escola superior de filosofia em Santiniketan, que depois foi transformada em Universidade, em 1921. Recebeu o Prêmio Nobel de literatura em 1913, e tornou-se mundialmente famoso graças ao seu livro de poemas Gintajarli (Oferenda lírica).