Verão de 42 (Summer of ’42 – 1971)

Aos quinze anos de idade, Hermie (Gary Grimes) vai passar as férias na praia. Durante esta viagem, ele procura respostas para suas dúvidas sobre a vida. Com a cabeça repleta de interrogações e sonhos, ele conhece uma mulher mais velha (Jennifer O’Neill) e fica apaixonado. Começa assim, uma intensa relação onde ele busca aprofundar seu conhecimento sobre o mundo. E ela, por sua vez, busca no jovem adolescente, o amor ausente de seu marido que partiu.

É curioso pensar que teve uma sequência para essa pérola, “Class of ‘44”, focada no trio de amigos adolescentes, sem qualquer menção à personagem de Jennifer O’Neill. Quem, em sã consciência, aceitaria pagar o ingresso? A alma de “Verão de 42” (ou o péssimo título mastigado para o público brasileiro: “Houve Uma Vez Um Verão”) é Dorothy, um dos rostos mais bonitos da história do cinema, a mulher que povoou os sonhos de meninos introvertidos no mundo todo, no que me incluo.

O roteiro de Herman Raucher é inspirado na experiência transformadora que ele viveu nas férias de verão de sua adolescência, mantendo os nomes verdadeiros de todos os envolvidos. Em uma entrevista televisiva anos depois, ele afirmou que após o sucesso do filme recebeu uma carta da Dorothy real, preocupada com as consequências psicológicas do seu ato outrora. Que nobre ingenuidade. O rapaz sortudo deve ter agradecido todos os dias pela manhã, ajoelhado no altar com sua foto.

Um elemento indissociável na trama é a belíssima trilha sonora de Michel Legrand, que capta com elegância o sentimento de nostalgia que abraça a obra, potencializado na qualidade quase etérea da fotografia de Robert Surtees. A direção de Robert Mulligan, responsável por “O Sol é Para Todos”, dedica precioso tempo à admiração silenciosa do menino por sua musa, equilibrando bem o humor das cenas mais atrevidas, como a aventura exploratória desastrada dos amigos pela anatomia feminina na sala de cinema, com a sensibilidade terna ao desenvolver o relacionamento de Hermie e Dorothy, sem nunca apelar.

Não há nada mais provocante que a delicada dança dos dois no terceiro ato, envolta pelas lágrimas de ambos, a mulher mais velha que se sente perdida no mundo, o menino que descobre o lado mais doce do amor. Aquela figura maravilhosa que o faz se sentir tão bem apenas com um olhar, um sorriso que simboliza a promessa de um mundo novo, terreno inexplorado, tão gentil e, ao mesmo tempo, tão perigoso.

Ele treme ao sentir o toque da mão dela em sua perna, ao ajudar enquanto sobe a escada para arrumar as caixas no sótão. Não há segunda intenção por parte dela, ele sabe, mas como ele gostaria que houvesse. Ele tenta puxar papo, disfarça o cansaço ao se oferecer para carregar suas cestas na rua, fica memorizando frases de efeito que considera elegantes para tentar impressionar. Ao visitá-la numa noite comum, ele se veste para uma ocasião especial, ele a respeita, ele a reverencia.

Ela pode ser apenas uma bela mulher para os homens da região, mas para o menino ela é a realização de um sonho, a constatação de que há mais para se ver no mundo que a apatia na rotina de sua cidade. Ela é o mundo. E o mundo não é justo. O lindo desfecho representa esta triste realidade, a maturidade conquistada após uma carta de despedida. Mas ele a teve por uma noite, suas mãos alcançaram a divindade, a vida vale a pena.

 

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